sábado, 1 de dezembro de 2007

Homem e mulher visitam o pavilhão dos cancerosos

Homem e mulher visitam o pavilhão dos cancerosos



Gottfried Benn


Homem:

aqui, estas fileiras são dos ventres cancerosos

e esta fileira dos seios cancerosos.

Leito por leito fétido. As enfermeiras se revezam de hora em hora.

Venha, pode levantar esta coberta.

Olhe, este amontoado de gordura e secreção pútrida,

já foi antes tudo para um homem

e significava também sussurro e pátria.

Venha, olhe para esta cicatriz no peito.

Está sentindo o relevo macio e branco?

Pode tocá-lo, a carne é macia e não dói.

Aqui, esta sangra como trinta corpos.

Ninguém tem tanto sangue assim.

Aqui, desta tiveram que tirar primeiro

uma criança de dentro do ventre carcinomatoso.

Deixam-nas dormirem. Dia e noite. -Às novas

se diz: aqui se dorme até ficar sã. -Só aos domingos

deixam-nas um pouco conscientes, para a visita.

Alimento é pouco ingerido. As costas

estão em chagas. Você vê as moscas. De vez em quando

a enfermeira as banha, como se tivesse lavando bancos.

Aqui, por cada leito o túmulo incha

Carne nivela-se com a terra. A energia se esvai.

Sangue escorre incessante. A cova chama.


Nenhum comentário: