segunda-feira, 18 de junho de 2007

Rimbaud - Poemas

Poemas de Rimbaud


MA BOHÈME (Fantasie) ~


E lá me ia, as mãos nos bolsos furados,

E meu casaco era também o ideal.

Eu ia sob o céu, Musa! e te era leal;

Oh! lá! lá! que esplêndidos amores sonhados!




Minha única calça estava em frangalhos

— Pequeno Polegar sonhador, em minha fuga eu ia

Desfiando rimas e sob a Ursa Maior adormecia,

Ouvindo no céu o doce rumor das estrelas.




Sentado à beira das estradas eu as ouvia,

Belas noites de setembro em que eu sentia

O orvalho em meu rosto como um vinho forte;




Quando compondo em meio a sombras fantásticas,

Como uma lira eu puxava os elásticos

De meus sapatos gastos, um pé junto ao meu peito!





CANÇÃO DA TORRE MAIS ALTA



Mocidade presa

A tudo oprimida

Por delicadeza

Eu perdi a vida.

Ah! Que o tempo venha

Em que a alma se empenha.



Eu me disse: cessa,

Que ninguém te veja:

E sem a promessa

De algum bem que seja.

A ti só aspiro.

Augusto retiro.



Tamanha paciência

Não irei esquecer.

Temor e dolência,

Aos céus fiz erguer.

E esta sede estranha

A ofuscar-me a entranha.


Qual o Prado imenso

Condenado a olvido,

Que cresce florido

De joio e de incenso

Ao feroz zunzum das

Moscas imundas.



SOBRE O POEMA “SENSATION”


Este poema de grande sensibilidade não tinha título quando foi enviado a Théodore de Banville. A versão definitiva traz o título “Sensation”.



Pas les beaux soirs d’été, j’irai dans les sentiers
Picoté par les blés, fouler l’herbe menue:
Rêveur, j’en sentirai la fraîcheur à mes pieds:
Je laisserai le vent baigner ma tête nue.


Je ne parlerai pas, je ne penserai rien…
Mais un amour immense entrera dans mon âme,
Et, j’irai loin, bien loin; comme un bohemian
Par la Nature, — heureux comme avec une femme!

(1870)


oooo0000oooo


Nas belas tardes de verão, pelas estradas irei,

Roçando os trigais, pisando a relva miúda:

Sonhador, a meus pés seu frescor sentirei:

E o vento banhando-me a cabeça desnuda.



Nada falarei, não pensarei em nada:

Mas um amor imenso me irá envolver,

E irei longe, bem longe, a alma despreocupada,

Pela Natureza — feliz como com uma mulher.



LINK: http://poetas.mortos.sites.uol.com.br/rimbaud.htm

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