Au revoir les enfants
Luís Antônio Cazajeiras Ramos
Aqui jaz minha juventude.
Dei a volta ao mundo, voltei-me
contra todos, dei as costas a tudo,
mas volto sem revolta, sem as armas,
com os calos.
Gastei os dias buscando uma saída,
volto ao ponto de partida sem chegar
no lugar. O que me chega é um basta.
Volto para o desconhecido de sempre
— cidade, pessoas, passado, tudo
em que não me reconheço.
Não me satisfaço, mas me dou por satisfeito.
Entrego os pontos, assino o cotidiano
e enterro a juventude na cidadania.
Esqueço o que não realizo e me realizo.
Enfrento a realidade realizando a realidade
e sonho tão-somente com a realidade.
Diante do cliente, sou paciente.
Cheiro a sabonete, calço sapatos
e me empacoto para o presente.
Agendo os sonhos disponíveis do meu fim-
-de-semana e descanso, faça chuva ou sol.
Descanso-me de mim mesmo todos os dias.
Entrego-me sob cartola e casaco ao mordomo
e deixo o que pensam que sou entrar no recinto
e sentar à mesa das cerimônias e espetáculos,
enquanto me amarroto, ausente, no cabide vazio.
Aqui, ali, jaz minha juventude.
Arranquei a ilusão e cruzei a ponte
de fora para dentro do mundo.
Esqueci de vir junto comigo.
Não importa: prefiro-me assim,
desacompanhado.
OBS: fui apresentado a Cajazeiras (sem nunca te-lo conhecido pessoalmente, o que não tem qualquer importância - ou talvez tenha) por Iago, que me trouxe esse poema que até hoje me emociona. Obrigado, mais uma vez, Guinho.
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