domingo, 7 de outubro de 2007

Apogeu dos vagões - Florisvaldo Mattos

Apogeu dos vagões




Florisvaldo Mattos



Noturnos vagões carregados de amargura

de empilhados produtos e origens,

correi sobre horizontes dos dias!




Composição de espanto corrosivo

acerca-se de mim, vai penetrando

com violência em meus olhos. Vence-me

a carne e os nervos, minha voz,

meu desesperado sangue e cansaço, como

fantasma criminoso que, alta noite,

entrasse em minha casa fortemente

nutrido de perigos e desastres.




Negros, armados de geometria difícil,

rota economia de outonos ressentidos,

duram interiores funerários

sobre sacos sombrios e carregadores.

Barris de angústia, lento soluço,

arrastado gemido sobre trilhos,

correi, sempre correi, sombra

afogada na sombra de sangrento galope.




Confuso grito e fúria registrando

velocidade e pressentimentos,

avançai contra noites, contra os dias

noturnos vagões, consistência

de amarguras espessas e ferragens,

cruel fome de rodas gira-mundo.





Formado em direito, Florisvaldo Mattos optou pelo jornalismo, atividade que exerce até o presente. Nos anos 60, integrou em Salvador o grupo da chamada Geração Mapa, liderado pelo cineasta Glauber Rocha. Leia mais.

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