sábado, 14 de julho de 2007

A Reconstrução - Mário Faustino

A Reconstrução

Mário Faustino


(...)

E nos irados olhos das bacantes

Finalmente descubro quem procuro.

Não eras tu, Poesia, meras armas,

Pura consolação de minha luta.

Nem eras tu, Amor, meu camarada,

Às costas me levando, após a luta.

Procurava-me a mim, e ora me encontro

Em meu reflexo, nos olhares duros

De ébrios que me fuzilam contra o muro

E o perdão de meu canto. Sobre as nuvens

Defronte mãos escrevem numa estranha,

Antiquíssima língua estas palavras

Que afinal compreendo: toda vida

É perfeita. E pungente, e raro, e breve

É o tempo que me dão para viver-me,

Achado e precioso. Mas saúdo

Em mim a minha paz final. Metade

Infame de homem beija os pés da outra

Diva metade, enquanto esta se curva

E retribui, humilde, a reverência.

A serpente tritura a própria cauda,

O círculo de fogo se devora,

Arrasta-se o cadáver bem ferido

Para fora do palco:

este cevado

Bezerro justifica minha vida

Nenhum comentário: